Quem tem medo do incêndio das IAs generativas?
Diretora de Inovação da PYXYS Inteligência Digital, Vanessa Cabral bota fé que nós, terráqueos humanos, somos capazes de sobreviver a mais esse avanço tecnológico, as IAs. Assim como fizemos com a “descoberta” do fogo há mais de 300 mil anos.
Fico imaginando como deve ter sido quando “inventaram” o fogo. Os primeiros Homo Erectus que friccionaram uma pedra em outra e dali tiraram as primeiras faíscas devem ter causado muito pânico e o zum zum zum nas cavernas deve ter sido intenso. Tão ou mais assustador do que o buzz que as IAs generativas estão gerando agora.
Corta para o Terceiro Milênio, Século 21: ainda estamos aprendendo a usar o fogo de forma responsável. E ele ainda causa tragédias como a da Boate Kiss (2013), sendo fatal e letal. O incêndio na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, matou 242 pessoas e o sistema judiciário levou anos para acabar não condenando os responsáveis de maneira satisfatória para as famílias das vítimas. A culpa é do fogo? Uma tecnologia que revolucionou a vida humana no Planeta Terra há mais de 300 mil anos?
Ao longo da História que temos documentada sobre a presença humana na Terra, foram muitas descobertas disruptivas. A pergunta é: elas pioraram ou melhoraram a nossa vida? Ou gostaríamos de voltar a viver como nossos antepassados que não sabiam fazer uma fogueira?
Quando o motor a vapor foi criado, em 1769, fico pensando no incômodo que causou. Era fim de toda uma relação social estabelecida há séculos. Marcou ali o começo da Era Industrial, da vida urbana, dos turnos de trabalho em fábricas. As regulamentações para tais relações de trabalho renderam (e rendem) discussões sem fim. Até hoje as leis trabalhistas são discutidas, revistas e geram processos.
Quando a primeira patente de um automóvel com motor a combustão foi registrada, em 1886, desencadeou uma nova onda de desenvolvimento. Discutida e regulamentada até hoje. “Acidentes de carro são a terceira maior causa de morte no mundo, perdendo apenas para doenças cardíacas e câncer”, diz o Google. Sabemos o quanto carros poluem e a indústria do Petróleo… bom, nem preciso listar as guerras e os impactos para o meio ambiente, não é? Temos como parar de usar automóveis de uma hora para outra? Não vejo isso acontecer tão cedo. Mas podemos avançar na tecnologia, incluindo o uso de IAs, para termos veículos mais seguros e menos poluentes? Claro que sim.
Na mesma época em que os PCs da Microsoft se popularizavam no Globo Terrestre, na década 80, foram produzidos uma leva de clássicos cinematográficos, como Blade Runner – O Caçador de Androides (1982) e O Exterminador do Futuro (1984). Filmes que representam a ameaça de ciborgues em um futuro distópico. Hoje, dos 7,9 bilhões de humanos no Planeta Terra, 5,3 bi usam mini computadores pessoais em suas mãos, andando pra lá e pra cá com seus smartphones, como extensões de seus corpos. Dá para abdicar de dispositivos eletrônicos atualmente?
Parar a evolução tecnológica não me parece a questão. A questão central é alavancar todo o resto do sistema civilizatório para acompanhar a evolução do comportamento humano que esses avanços desencadeiam. Os processos educacionais, que ainda seguem a cartilha da Idade Média, têm que ser revistos urgentemente. Grades curriculares baseadas em responder questões de provas do tipo “decoreba” não cabem mais em um mundo onde crianças interagem com Alexas e Siris. Lembra do vídeo que viralizou do menino perguntando para Alexa as respostas das contas de matemática da lição de casa, escondido da mãe? E, no fim do vídeo, o menino agradece a assistente virtual, como se fosse sua melhor amiga dando a “cola” para ele. Crianças já entenderam tudo. O Sistema Educacional Global ainda não.
O mesmo vale para a estrutura jurídica. Se é recorrente a reclamação de que a Justiça, tal como está posta, é lenta para promover a mediação ética das relações da vida off-line, imagine das trocas on-line. Olha lá como se desenrolou o processo judicial da Boate Kiss. E, no caso, a tecnologia letal foi o fogo. Aquele descoberto há mais de 300 mil anos. E é constrangedor – para se dizer o mínimo – ver cidadãos (mundo afora, não só nos EUA) usando uma emenda de “liberdade de expressão” de 1789, da Constituição norte-americana, para justificar abusos no uso do… Twitter! Como se citar uma lei do Século 18 bastasse para ratificar as complexas relações atuais em redes sociais. O Sistema Jurídico Global precisa urgentemente de um “reload”.
Parar o desenvolvimento tecnológico é viável? Resistir às mudanças é possível? Assim como o fogo, as IAs podem levar a humanidade a outro patamar (de mentalidade, inclusive). Nesse meio do caminho, como diria o Mestre Yoda, “medo desencadear vai”. O convite aqui é olharmos em perspectiva histórica: assim como fizemos com a “descoberta” do fogo desde o Homo Erectus, terráqueos humanos somos inteligentes e estratégicos o suficiente para regulamentar e nos educar para o uso ético da invenção da vez. Então, pra quem está com medo dos incêndios que IAs generativas podem causar, vou lembrar de uma expressão muito usada em memes da Internet: “Aqui é Homo Sapiens, p@xxa!”.
Homo Sapiens, seguimos nos debatendo para fazer mais uma transição histórica. Desta vez para “Homo Cyber”? A questão pode ter como trilha sonora a música impactante do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), do diretor Stanley Kubrick: Assim falou Zarathustra, de Richard Strauss. Ou podemos ser menos fatalistas, e levar mais em consideração a qualidade do espírito humano – aquele que nos une como humanidade -, cantando um pagode do Zeca Pagodinho. Porque do mesmo jeito que usamos o fogo a nosso favor e para criar momentos inesquecíveis, como os almoços de domingo, em família, cozido no fogão a lenha, ainda podemos tranquilamente arranjar um jeito de usar IAs para sambar. Não subestimemos a capacidade da inteligência (emocional) humana.
Observação: Este texto foi escrito por uma terráquea humana sem o uso de IA generativa. Porém, entretanto, todavia… com uso de sites de busca porque eu jamais lembraria de cabeça as datas e os dados citados aí. Obrigada, Siri! (Risos)
E aí, quer mais?
Para perder o medo do futuro tecnológico e aprender mais sobre os melhores jeitos de implementar inovações, acompanhe o site da PYXYS.