Ei, mulher, por que você não entra na área de tecnologia? Sim, menina, você pode!
Carolina Gotschalg, COO e sócia da PYXYS, estreia sua coluna no nosso blog contando os desafios de ser mulher num mercado tech dominado por homens.
Nem códigos complicados nem falta de oportunidades: o principal desafio para uma mulher ingressar na área de tecnologia é vencer a barreira cultural do que a sociedade entende como profissões “femininas”. E isso começa na infância: meninas brincam com bonecas e de casinha. Essas brincadeiras começam um processo de reforços constantes que filtram interesses e possibilidades. Para quem partiu de brincadeiras desse tipo, faz mais sentido desenvolver habilidades de gestão e organização de tarefas.
Mas minha jornada começou diferente. Como comecei, aos quatro anos, as aulas de piano e continuei próxima do universo da música durante toda a minha vida, minhas influências e habilidades foram outras.
Quando os testes vocacionais começaram a me indicar para a área de exatas – diferentemente do que toda cultura e sociedade me indicavam –, eu ainda não entendia direito a relação da música com as habilidades lógicas que tinha desenvolvido. Outros interesses e características minhas foram contribuindo para a decisão de entrar na tecnologia: gostar de desafios, jogar videogames, ser muito objetiva… Mesmo assim, quando decidi que iria sim fazer faculdade de computação, ouvi coisas do tipo:
“Menina não faz computação. Por que não arquitetura ou talvez medicina?”
Afinal, essas áreas eram mais “femininas”, condizentes com o que se entendia como caminhos profissionais “para mulheres”. Vencer essa primeira barreira, da cultura e das pressões sociais, na opção do vestibular provavelmente foi o mais complicado. Mas sempre fui muito decidida e não tive dúvida sobre a carreira que queria seguir.
Como a tecnologia é uma área predominantemente masculina, na faculdade fui a única mulher da sala em vários momentos do curso. Por essa desproporção, tive alguns problemas com o machismo de colegas: se uma mulher tirasse notas maiores, por exemplo, sentia que os homens reagiam como se isso fosse absurdo. Entretanto, o mercado me abriu muitas portas. Eu senti muito mais resistência cultural da sociedade do que de quem atuava na área.
A tecnologia é uma das áreas em que mais importa o domínio técnico, o saber fazer. Quem sabe o que está fazendo consegue seu caminho profissional – e, ao menos nesse sentido, não há muita discriminação. A desigualdade está mais no ponto de partida: enquanto as mulheres entram no mercado sempre como analistas, os meninos já ingressam em posições de liderança. Ainda assim, sinto que ser mulher na tecnologia tem esses dois lados: existem limitações e barreiras; por outro lado, algumas portas se abrem. Em relação ao incentivo à pesquisa, por exemplo, percebi que mulheres tinham muito mais abertura e convites.
E se o incentivo às mulheres a entrar na área da tecnologia é muito menos frequente do que é para um homem, a permanência e o desenvolvimento na carreira pode ser mais consistente. A tecnologia me abriu muitas portas, por exemplo, na área de negócios. Percebo que a maior dificuldade está mesmo na entrada, na escolha do vestibular e no início da carreira. A grande questão é: Mulher, por que você não entra numa faculdade de tecnologia? Sim, menina, você pode. É só desconstruir a ideia de que essa não seja uma possibilidade.
Se a área ainda é dominada por homens é justamente porque a barreira cultural faz parecer que a tecnologia é um território masculino. Mas será cada vez menos, conforme nós mulheres seguirmos conquistando espaços. Para mulheres que têm afinidade com processos e metodologias, para as que gostam de desafios e têm espírito competitivo, a tecnologia é uma área pronta para recebê-las e com muitas oportunidades a explorar.
É importante não acreditar quando disserem que a área não é para nós: o que se encontra na tecnologia é um campo imenso com muitas portas que, uma vez abertas, dão poder para que estejam onde quiserem – como profissionais, como líderes e como mulheres.
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