Conflitos não resolvidos criam paranoias – especialmente no trabalho remoto
Será que evitar conflitos é o melhor caminho? Transparência é fundamental para evitar que problemas em empresas se acumulem e piorem
Em uma entrevista, não é raro ouvir alguém dizer algo como “sou alguém que evita conflitos” considerando que esta é uma característica positiva. Mas evitar conflitos não é nada positivo e pode prejudicar sua equipe e até piorar problemas conforme vão se acumulando.
A psicóloga e head de Gente & Cultura aqui da PYXYS, Roseane Santos,reforça: “Conflitos não podem ser evitados. Podemos fugir deles, ocultá-los, não encarar que existem, mas não evitá-los de verdade.”
A melhor postura é aquela que fala abertamente sobre conflitos, buscando caminhos para resolvê-los. Por quê? Porque evitar conflitos é a receita certa para manter problemas sem solução – e ainda piorar o engajamento do time, criando medo e paranoia dentro da empresa.
Será que…
Insegurança, medo e paranoia são consequências comuns de conflitos não resolvidos. E embora possam aparecer em qualquer ambiente de trabalho, esses sentimentos são mais comuns no trabalho remoto.
É o que mostram, por exemplo, os dados da pesquisa realizada em 2017 por pesquisadores de Harvard: pessoas em trabalho remoto eram mais propensas a acreditar em coisas como “meus colegas falam mal de mim pelas minhas costas”, “colegas fazem mudanças em meus projetos sem me avisar” e “meus colegas estão se unindo a outros para tramar contra mim”.
E o que gera todas essas sensações ruins? Evitar conflitos, principalmente.
O mesmo estudo relatou que nos ambientes em que a paranoia era menor, conflitos eram abordados mais explicitamente: expectativas eram reforçadas explicitamente, gestores conferiam constantemente o bem-estar das pessoas do time, reuniões de voz e com câmera aberta aconteciam mais frequentemente e tanto comunicação quanto relacionamentos eram priorizados.
Roseane concorda: “Procrastinar só faz os problemas aumentarem. Tudo que não é dito cria paranoias e fantasias: será que meu chefe está contrariado comigo, será que aquela resposta foi por minha atitude em tal dia…”
Conexão, solidão e comunicação
No trabalho remoto, também são maiores o sentimento de solidão e a percepção de que problemas de comunicação e colaboração são prioridades. É o que diz a edição mais recente do relatório anual da Buffer sobre o estado do trabalho remoto. Quem trabalha remotamente diz ainda que se sente menos conectado ao resto do time, em comparação com o que sentia no trabalho presencial.
E é por isso que a transparência e o foco em pessoas pode ser fundamental para evitar que problemas fiquem em aberto e afetem o bem-estar das equipes.
Aqui na PYXYS, adotamos algumas técnicas para resolver isso, a começar pelo check-in em que perguntamos a todos do nosso time em reuniões como seus dias estão sendo. A diferença é que aqui respostas de todo dia são aceitas: vale desde o famoso “tudo bem”, ao “não está tudo tão bem assim”.
Essa abertura constrói uma cultura de autenticidade, transparência e confiança. Roseane comenta: “Empatia não é só se colocar no lugar do outro, mas ter uma escuta e uma preocupação com o outro. É importante ouvir, interagir, ter perguntas… Ser respeitoso na maneira de tratar ao falar sobre conflitos, ao invés de só fugir de abordá-los”.
Uma nova perspectiva sobre conflitos
Você já deve ter visto algo assim: na reunião, quando alguém pergunta se todos estão de acordo, ninguém tem coragem de fazer qualquer comentário. Mas assim que a reunião acaba, o burburinho começa: em grupos menores, começam as críticas de quem tinha acabado de concordar com a decisão na frente de todo mundo.
“Lugares que não favorecem conflitos geram medo. Medo de ser julgado, medo de errar… E é daí que partem as reuniões em que pessoas se calam: o diz-que-me-diz é um sintoma do medo de sofrer retaliações se algo contrário à posição dos líderes for dito”.
Em ambientes que não evitam conflitos, pessoas se sentem confortáveis para dizer o que pensam, mesmo se forem contrários aos posicionamentos de qualquer outra pessoa do time – inclusive seus superiores. E esse diálogo aberto é muito produtivo, não só para melhorar o bem-estar de todos, mas também para construir mais assertividade nos processos de tomada de decisões.
Ou, como disse Roseane: “o conflito não é algo negativo. Ele está ali para ser encarado, solucionado e para trazer aprendizado. Conflitos bem geridos criam ambientes mais seguros e leves.”
Quer aprender a lidar melhor com conflitos?
Na próxima quarta-feira, dia 15, às 17h, Roseane Santos e Mariana Marques, coordenadora do Centro de Direitos Humanos, estarão em uma live pelo Instagram da PYXYS com o tema “Gestão de Conflitos: como técnicas de CNV aumentam a criatividade no trabalho”.
A conversa vai ser imperdível para todos que querem se aprofundar no tema e aprender mais sobre medidas que solucionam a gestão de conflitos em empresas.