Dia do Jornalista: as tecnologias e os novos caminhos da profissão
Mais do que um dia de homenagem, 7 de abril é uma oportunidade para refletir sobre o futuro dos jornalistas em um mundo que precisa deles mais do que nunca
Vamos começar com algumas perguntas para a gente começar a considerar o estado do jornalismo hoje em dia e por que o jornalista é mais importante do que nunca:
- Quantas notícias você lê por dia?
- E quantas vezes você acaba vendo só o título, ou confiando no que vê em um meme?
- Quantas notícias que você sabe que são falsas não aparecem na sua frente toda vez que abre um grupo, ou olha um feed?
- E quantas será que você acaba acreditando serem verdadeiras, mas são falsas também?
Em um momento histórico em que pesquisas apontam que sete em cada dez brasileiros se informam principalmente via redes sociais, ao mesmo tempo em que outro estudo demonstrou que usuários que se informam pelo Facebook são mais propensos a rejeitar a vacinação, fica a questão: como adaptar o jornalismo a esse mundo digital caótico?
Se a resposta fosse fácil, não seria um desafio. O que temos são vários caminhos, possibilidades e apostas. Hoje, queremos sugerir algumas delas.
1. Da news ao reels: os novos formatos
O jornalismo do futuro vai parecer cada vez menos com aquele jornalismo que marcou a vida dos nossos pais e avós: aquele do jornal impresso na porta de casa ou na banca, aquele que começava com o “boa noite” no Jornal Nacional entre uma novela e outra.
Mas se não vai ser assim, vai ser como?
Para começar: já está sendo. O jornalismo do futuro já está por aí agora, em mil iniciativas que estão testando novos formatos. Algumas delas vão vingar mais do que outras e se consolidar como os novos meios “principais” de consumo de informação de qualidade.
Quando a gente fala de um jornalismo que usa de novas tecnologias, às vezes isso parece meio abstrato, ou algo que depende de alguma coisa de ficção científica que nem inventamos ainda. Mas às vezes a nova tecnologia a ser usada é só alguma coisa que já existe e passa a ser vista de um jeito diferente.
É o caso, por exemplo, dos e-mails. Eles não são exatamente uma “nova tecnologia”, mas estão ajudando o jornalismo a aparecer em novos espaços com e-mails enviados de tempo em tempo (pode ser todo dia, ou uma vez por semana). Jornalistas estão aproveitando deste formato para contar as principais notícias de uma maneira criativa e divertida.
É o caso de newsletters de notícias gerais, como as diárias The News e a Meio ou a semanal O Farol, de newsletters dedicadas a assuntos mais específicos, como a The Shift que fala sobre tecnologia, e até de news internacionais como a do Nieman Lab, que fala justamente sobre tecnologias aplicadas ao jornalismo.
O futuro do jornalismo vai ser meio assim: encontrando lugares para se enfiar, seja nossa caixa de entrada, sejam os stories do Instagram, seja um grupo de Telegram… Às vezes, é muito mais uma questão de buscar os espaços onde as pessoas já estão, do que tentar reinventar a roda criando um lugar completamente diferente.
2. Lidar com crises e guerras narrativas
É meio triste que o jornalismo esteja passando por uma crise em um momento em que precisamos tanto dele. Vivemos nos últimos anos uma guerra narrativa gigante com a questão da pandemia, que gerou desde a já citada desconfiança nas vacinas até a promessa de remédios e tratamentos milagrosos, ou manipulação no número de mortos e infectados.
A pandemia não acabou e as desinformações a respeito continuam. Em 2022, o principal alvo foi a vacinação infantil. Ao mesmo tempo, em nível internacional temos a guerra de informações a respeito da Guerra na Ucrânia, e no Brasil temos já de agora os primeiros passos da guerra de informações por causa do período eleitoral que vai nos assolar durante o resto do ano (algo que vai ser particularmente difícil, considerando que 21% dos brasileiros usam as redes sociais como meio principal para se informar sobre política).
Precisamos mais do que nunca de jornalistas para ajudar a lidar com esse tipo de problemas. Em um mundo que vive uma ameaça de infodemia (uma epidemia de informações, falsas ou reais) tão grave que já foi até mesmo alertada pela OMS, precisamos do jornalismo para aprendermos a ter uma curadoria que separe o que é real do que não é – e que nos ajude a não ficarmos mergulhados em informações além do necessário.
O problema é realmente sério e a OMS não exagera ao tratá-lo como uma crise. Uma notícia falsa pode levar alguém a colocar em risco a própria vida. Um exemplo foi o aumento dos casos de intoxicação por desinfetante, após o ex-presidente norte-americano Trump sugerir que a substância ajudaria contra a COVID-19. Um jornalismo que combata informações desse tipo e que informe e eduque as pessoas de verdade pode evitar danos como esse.
3. Construir e refutar
O jornalismo de hoje precisa lidar com a infodemia e as notícias falsas de duas maneiras. Uma delas é a reação: é o caso por exemplo da iniciativa do Estadão para desmentir boatos durante a pandemia e das agências de checagem de fatos, como a Fato ou Fake da Globo ou a Lupa, da Piauí.
Mas por mais que essas iniciativas sejam fundamentais, elas sozinhas não vão dar conta do recado, dado o volume de desinformação que corre por aí.
É muito mais rápido criar um boato do que desmenti-lo. Inventar uma informação não demanda pesquisa, método, nem jornalistas profissionais. Por isso, para cada notícia falsa desmascarada, outras mil vão continuar se espalhando por aí.
É por esse motivo que, além da reação, o jornalismo vai precisar cada vez mais assumir também uma postura ativa, mais do que só reativa. Como? Educando as pessoas para entenderem o contexto e desconfiarem, para que existam canais confiáveis de acesso à informação e para que a credibilidade se torne um ativo cada vez mais importante para quem dissemina informação.
Essa construção passa também pela necessidade de valorizar o próprio jornalismo enquanto profissão. Se precisamos tanto de bons jornalistas, não faz sentido que eles vivam um momento de sucateamento de seu trabalho, não é mesmo? Criar um jornalismo de qualidade também passa por criar um mundo com jornalistas que trabalham com dignidade.
Esse projeto de construir um novo jornalismo é de longo prazo, depende um pouco também de todos nós e vai depender também de todas as iniciativas que discutimos nesse texto e também de muitas outras. A PYXYS, por exemplo, tenta fazer sua parte aproveitando seu DNA de publisher para compartilhar fontes e informações relevantes por nossos canais e a partir dos projetos que construímos com nossos clientes.
Neste 7 de abril, deixamos nossa homenagem e agradecimento aos jornalistas por todo o trabalho duro. Agora, eles são de verdade mais importantes do que nunca.
E se você quer mais informação de qualidade sobre inovação, tecnologia e tendências do mercado, que tal conhecer o nosso blog?