Autonomia e autoconhecimento na transformação do trabalho
Com as novas estruturas do futuro do trabalho construídas de forma mais horizontal e descentralizada, o desafio é lidar com mais complexidade. Mas a agilidade na tomada de decisões compensa.
Construir um ambiente de trabalho com mais autonomia nem sempre é fácil. Na verdade, é até mais complexo lidar com estruturas de trabalho que sejam menos hierárquicas e tradicionais; mas experimentar novos modelos traz benefícios que compensam, como a agilidade na tomada de decisões.
Esse é um dos principais insights sobre o futuro do trabalho que Datise Biasi, especialista em futuro do trabalho e das organizações, trouxe em sua conversa com a head de Gente & Cultura da PYXYs, Roseane Santos, em nossa live no Instagram, “O Futuro do trabalho na era digital”.
Mais do que isso, estes novos modelos atendem a novas exigências, seja do mercado ou das próprias pessoas que passaram a buscar outras prioridades ao escolherem como e onde desejam estar profissionalmente.
“Autonomia é a resposta para a demanda do mercado que busca agilidade, além de responder também às demandas dos profissionais e empresas”, Datise enfatiza. Esse encontro de novas exigências por parte do mercado e das pessoas transforma a autonomia em um bom negócio no sentido mais literal possível: não só ela é atrativa para os profissionais mais qualificados, que preferem se manter em empresas que entreguem esse valor intangível, quanto também permite que processos de tomada de decisões aconteçam com mais eficiência.
O futuro da liderança é descentralizado
Está ficando ultrapassada aquela ideia de um líder que sabe de tudo, que pode tomar todas as decisões sozinhos e pelo qual tudo deve passar. Não só porque em um cenário de incertezas fica cada vez mais impossível que alguém assuma essa posição, quanto porque este posto prejudica a tomada de decisões da empresa, que não aproveita seus talentos e os insights de cada um do time sobre a ára em que atua.
Um dos principais caminhos para transformar uma empresa e prepará-la para o futuro, portanto, é justamente construir um novo entendimento sobre qual é o papel de um líder: muito mais do que uma pessoa que deve centralizar decisões e poder, a liderança eficiente está naquele que sabe delegar responsabilidades.
“Um grande trabalho que tento fazer nas empresas é transformar a visão do líder: ele não pode mais carregar sozinho o peso de ter todas as respostas. E quando sabe disso, o líder passa a distribuir poder”, Datise explica, antes de reforçar como isso transforma também os papéis de todos dos time, já que “com essa mudança do perfil do líder, vamos criando espaços para as pessoas assumirem protagonismo”.
O trabalho do futuro, portanto, passa menos pelo uso desta ou aquela tecnologia especificamente e mais por processos humanos, no que diz respeito à transformação que se espera nas estruturas e nos posicionamentos das pessoas envolvidas: tanto líderes, que precisam entender seu novo papel, quanto de todos os outros do time, que precisam construir uma nova maneira de compreender suas responsabilidades.
Um processo de ações e adaptações
Essa mudança toda já está acontecendo em todas as organizações – afinal, a pandemia só acelerou a transformação digital de muitos negócios e é impossível voltar atrás para várias áreas que encontraram no trabalho remoto e com autonomia a base de seu novo modelo de funcionamento. Ao mesmo tempo, essa transformação pode acabar “truncada” em certas situações e Datise demarcou dois dos principais desafios para que novos modelos sejam bem-sucedidos:
O primeiro desafio é o de concretizar com ações tudo aquilo que é dito. Não adianta dizer que o time todo está tomando um pouco a posição de líder, e manter só na teoria a ideia de descentralização do poder, se ações não corroborarem o discurso.
“Estamos mesmo dando autonomia para as pessoas tomarem decisões que tragam resultados? Ou a gente só comunica que queremos essa postura, enquanto estamos tirando a chance de que as pessoas façam a diferença?”, Datise provoca. Para organizações mais resistentes à mudança, esse desafio de realmente colocar em prática aquilo em que se acredita pode ser um dos maiores problemas ao tentar construir novas maneiras de entender o trabalho.
O que nos leva para o segundo problema: os desafios de adaptação e mentalidade que envolvem a todos nessa transformação. Desde aprender a respeitar os horários para evitar burnouts em uma cultura que agora permite a todos decidirem quanto e quando vão trabalhar, até adaptar-se às novas tecnologias com eficiência: se seu trabalho remoto é marcado por reuniões infinitas, não é um trabalho do futuro só porque estas reuniões estão sendo feitas por videoconferências – e também não será se, no futuro, estas mesmas reuniões acontecerem pelo metaverso.
“A gente veio de um modelo em que aprendemos a trabalhar de forma hierárquica. Hoje, temos uma grande dificuldade de romper com essa forma de trabalho”, Datise explica. Essas dificuldades vão muito além de um novo program de computador – são dificuldades para educar pessoas a pensar de uma maneira nova.
O futuro do trabalho não vai ser construído, portanto, com novas tecnologias, apps e programas de computador. Antes, vai ser construído por pessoas – e suas novas maneiras de entender o mundo, as organizações e o propósito do trabalho que fazem.
Quer saber mais sobre o futuro do trabalho?
A live que realizamos com nossa head de Gente & Gestão, Roseane Santos, com a especialista em futuro do trabalho e das organizações, Datise Biasi, está disponível na íntegra em nosso perfil do Instagram. É uma conversa fundamental para todos que já experimentam ou que ainda vão experimentar essas novas tendências – e que querem se aprofundar nas mudanças que sua vida profissional terá daqui para frente.